31 outubro, 2006

SINTA-SE EM CASA





A casa larga.
Ver a cidade
como meu pátio;
o viaduto histórico,
meu quarto ornado.
Como o sal do meu suor.
Bebo a saliva amanhecida.
Durmo sob o olhar do busto
bronzeado.
Acordo sem sobressaltos
com os saltos passantes,
sempre a caminho,
nunca visitantes.
Descanso em praça
e o "se" me acompanhe:
se eu trabalhasse;
se rogasse ao Cristo;
se eu me banhasse;
se eu não fosse visto;
se não estampasse a face sofrida;
se eu não pedisse ;
se fosse comprar comida;
se eu não existisse




29 outubro, 2006

SURPRESA À SOLTA

Surpresa!
Ela sempre tem pressa
e não confessa
premeditados motivos.
Apossa-se do ritmo
e do movimento
Impasse gera
e impõe suas rédeas
ao próximomento.
Impera
sobre o planejamento.
É velocista
no vai-vém das estratégias.
Balança
sobre o mar das indecisões.
Esboça redesenhos, embaça
colorações
Não há futuro à vista
Não há presente que resista
quando passa
a surpresa!
 Posted by Picasa

24 outubro, 2006

BOCA DO CÉU




Calou o azul,
Lufada louca.
Ar extraviado
calorento.
vento, tu vens da boca
do céu escancarado
engole o momento
e o jorro lacrimole
faz-se nuvem, seca
a face. Inventa o fole
um sopro de perdão

a quem peca
compaixão

22 outubro, 2006

AZULTANTE

Teus meus olhos
semi-cerrados
quando desperto
são lagos azulados
inundando mansos
cada deserto
fertilizando futuros
em cada horto
abrindo caminhos
até meu porto
 Posted by Picasa

17 outubro, 2006

É POUCA PIPOCA




Tri-Pic-nic
Época de pipoca
É pouca mão
É pouco o pote
Sprite em pet
É coco branco
É preta a coca
É treco, é troca
O embate não
Repete o bote
Bisbilhotando
Ilhota de bis
Filhota feliz
Empurra-emburra
A birra é parte
O copo escapa
E peca a capa
É farra sapeca paca!

16 outubro, 2006

AVES SÓS


Traços
Começos
Passos
Tropeços
Rumos pregressos
Partidas e vindas
Caminhadas
Chegadas retidas
Paradas, regressos
Medos solitários
Avessos enredos
Recortes da vida
Irremediáveis curas
em cada brisa
em cada cheiro
herdeiro da aventura

15 outubro, 2006

OLHO SOBRE TELA


Apenas momento
Olho sobre a tela
Jogo sobre ela
Aquele sentimento
Veloz, que atropela,
Se avoluma e toma forma
A voz interior exala, externa
E transpassa a hermética derme
Transcende músculos e ossos
Numa teia de poros-escamas
Num abraço que é chama
Calorosa e fraterna

Texto e Foto/imagem:Roberto Englert;
Escultura em tela de Irene Süffert
veja mais em maketa@terra.com.br

.

11 outubro, 2006

CLAREIRA

Posted by Picasa

Clarificante colorido - colírio-

Em meio a extremas sombras selvagens

Esboço de exuberância luminosa, harmônica

Espaço conquistado às densas folhagens

Desembrenhamento, desclausura crônica

09 outubro, 2006

MONUMENTO AO ABANDONO



Ao poeta sem o filho,
No momento único,
Monumento sem brilho
Brilha, sai de seu sono,
Brinca, descarrega o lúdico,
Entrega sua farda à graça,
Escorrega a dor do abandono
No centro do medo,
No abdômen da praça.




04 outubro, 2006

AFETO QUE AFETA


Onde estão as pétalas
Para que a flor sinta-se completa?
Curvam-se as pontas
Cada: delicado fio, filete.
Ramalhete de alças
Conjunto de pimentas-falsas
Anti-pétalas, vazias, vazadas
Arma de defesa, pinos de granadas
contra a mão de romântico-atleta
que do bem-querer se locupleta

03 outubro, 2006

Lançamento: "Água do Sonho"


Estarei lá

RIO AVÔ



Costas curvadas,
lentos movimentos,
inundado de mundo,
contido,
barba longa e branca,
ar senhorio,
olhar profundo,
descansa
em seu leito,
entre as barrancas,
o velho rio.

01 outubro, 2006

PROSA DOS VENTOS



Todas as direções
Nos apontam
As pontas da rosa
Dos ventos que passam
Indecisos, na busca airosa
Do rumo certo - essa falácia
Inventada, soprada e rebrisada-
Pedindo orientação à rosácea,
Capta o cochicho chorado,
Sorve o sussurro surrado,
Colhe confidências tormentosas
Ouve o uivo, louva a voz,
Salva o silvo, sibilo veloz.
Devolve-lhes o eco louco
Tornado de todas as prosas